
Os dados da Demografia Médica 2018 foram apresentados, no dia 20/03, em Brasília, pelos presidentes do Conselho Regional de Medicina do Estado de são Paulo (Cremesp), Lavínio Nilton Camarim; do Conselho Federal de Medicina (CFM) Carlos Vital Tavares Corrêa Lima; da Associação Médica Brasileira (AMB), Lincoln Lopes Ferreira; e pela secretária executiva da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), Rosana Leite de Melo.
Segundo o levantamento, a população médica apresentou um crescimento nunca antes detectado. Em pouco menos de cinco décadas, deu um salto de 665,8%, ou de 7,7 vezes. Enquanto isso, a população brasileira aumentou 119,7%, ou de 2,2 vezes. No entanto, esse salto não trouxe os benefícios que a sociedade espera.
O estudo do Cremesp e do CFM, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), demonstrou que, apesar de o Brasil contar, em janeiro de 2018, com 452.801 médicos (razão de 2,18 médicos por mil habitantes), o país ainda sofre com grande desigualdade na distribuição da população médica entre regiões, estados, capitais e municípios do interior. Coordenado pelo professor Mário Scheffer (USP), o levantamento usou, ainda, bases de dados da Associação Médica Brasileira (AMB), Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Educação (MEC).
Mais da metade dos registros de médicos em atividade nos estados se concentra nas capitais, onde mora menos de um quarto da população do país. A razão das 27 capitais é de 5,07 médicos por mil habitantes, enquanto no interior esse índice é de 1,28 – ou seja, 3,9 vezes menor. Este número indica grande desigualdade na quantidade de médicos nas capitais do Brasil e municípios do interior. Na capital de São Paulo, vivem 47,3% dos médicos do estado, contra 52,7% que atuam no interior. Entretanto, o interior paulista apresenta a razão de 2,02 médicos por mil moradores e a capital 4,98 profissionais por mil moradores, ou seja, 2,46 vezes mais do que no interior.
Na sequência, Mato Grosso do Sul tem 2,51; e Rio de Janeiro, 2,83. No outro extremo estão Sergipe (28,47), Maranhão (13,98), Amazonas e Alagoas (12,37) e Pernambuco (11,78). Em todos esses estados, o número de médicos por mil habitantes é pelo menos 11 vezes maior nas capitais que no interior. A presença de grandes centros médicos no interior paulista justifica o menor indicador de São Paulo.
O Sudeste é a região com maior razão de médicos por 1.000 habitantes (2,81) contra 1,16, no Norte, e 1,41, no Nordeste. Somente o estado de São Paulo concentra 21,7% da população e 28% do total de médicos do País. Por sua vez, o Distrito Federal tem a razão mais alta, com 4,35 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro, com 3,55.
“Há uma desproporção gritante entre as unidades da federação e entre as regiões: 39 cidades com mais de 500 mil habitantes concentram 60% dos médicos, enquanto os 40% estão distribuídos no país para atender o restante da população”, pontuou o presidente do CFM, Carlos Vital, que diante do quadro apresentou propostas para uma melhor distribuição dos médicos. “Um ponto fulcral é a criação de uma carreira de Estado para o médico e demais profissionais de saúde, que dê segurança jurídica, permita a educação continuada, ofereça condições de trabalho e valorize o trabalho do profissional para que ele se fixe nas cidades do interior”, defendeu Vital durante coletiva à imprensa nesta terça-feira (20), em Brasília.
O aumento total registrado e a má distribuição dos profissionais pelo território nacional têm relação direta com o fenômeno da abertura de novas escolas e cursos de Medicina no Brasil. Considerando-se que a graduação em Medicina dura seis anos, sem praticamente haver evasão ou repetência entre os alunos, cada vaga oferecida em 2018 corresponderá a um novo médico, em 2024. “Os resultados do estudo sustentam o debate sobre o grande número de escolas em funcionamento no país, que podem comprometer a qualidade da formação médica. Após diversas manifestações públicas do Cremesp e de demais conselhos e organizações de especialidades médicas, contra a abertura indiscriminada de escolas médicas no Estado, o governo federal comprometeu-se em assinar uma moratória para proibir a abertura de novos cursos de Medicina no país durante cinco anos”, enfatiza o presidente do Cremesp, Lavínio Camarim. “Essa medida servirá para que os cursos em funcionamento, atualmente, passem por avaliações e adequações que se fizerem necessárias para a boa formação do estudante de Medicina”, conclui Camarim.
Segundo a Demografia Médica 2018, o Estado de São Paulo concentra o maior número de médicos do país, com 126.687 profissionais. O sexo feminino corresponde a 45,4% do total e a média de idade dos médicos no estado é de 45,3 anos. A maior parte dos médicos (65,5%) possui pelo menos um título de especialista: o estado possui 1,9 especialista para cada médico generalista (sem especialidade).